- E fulano(a), como anda?
Em verdade, há muito tempo ouço essa frase e nunca me dei conta dela. Como as inúmeras vezes que ouvimos as mesmas coisas das mesmas pessoas e só um dia, lá muuuito tempo depois, é que a ficha cai e pensamos: "ah, então, era isso".
******
Bem, a coisa é exatamente esta: não sou romântico. Aliás, nada. Ressinto-me, mas é o que tem. Sou assim. Não há desculpa. Talvez uma ou outra justificativa, mas nada relevante a ponto de trazer aqui. De toda sorte, creio que a falta de romantismo pode passar às vezes por desleixo com o sentimento (e nem digo com a relação).
Acabo de ver um filme (prefiro película, em espanhol mesmo, mas para não parecer babaca...!), um drama romântico hollywoodiano, desses de sessão da tarde. É óbvio que a estória contada no filme encontra-se romanceada para deglutição de paladares menos sutis. Mas, o que importa não é a qualidade do filme em si* (em que pese, o sorriso de Rachel McAdams ser um estrondo!), mas o que ele fez com algumas de minhas sinapses. É impressionante como, de repente: "ah, então, era isso"...
Onde deixamos de seguir em frente em nossas vidas (com as vidas alheias)? Não, não estou a falar de trabalho e dinheiro: de satisfação profissional. Estou a dizer de sensibilidade com o Outro. Em inglês acho que soa melhor: further-other sensibility (acabo de inventar!). Falo exatamente do seguinte: e o amor, como anda? É tanto movimento, tanta competição desenfreada, tanta preocupação com os próprios sonhos e vontades, que... parece que o tempo não dá para o amor (e o outro é um mero complemento, mais um objeto no meio do sótão narrativo que é a vida). Não aquele folhetinesco. Mas, o outro. Aquele em que o Outro é quem sobrevive e... você? Bem, você é apenas quem lhe dá a vida.
Sem abstrações: sempre achei meio grudento demais quem mostrava alguma nuance mais "further-other". Sem breguices, bem entendido. Passar por um determinado local e dizer: - Ei, lembra? Foi aqui que... Eu achava isso um tédio. - Ei, hoje é o dia em que completamos não-sei-quantos-anos de não-sei-o-quê. Achava um saco. De repente, venho liquefazendo algumas certezas: "ah, então, era isso".
Que seja bem-vindo. E que fique. Preciso de. E quem não precisa? Há que se doar independentemente da concretização do que se deseja. Só há uma vida e (acho que é a idade!) ela deve ser saboreada bem devargarzinho, se é que me entendem...
* O filme em questão chama-se The Vow (foi traduzido no Brasil como "Para Sempre"), inspira-se em fatos reais, e traz nos papéis principais o ator (?) Channing Tatum e a atriz Rachel McAdams (que sorriso, meu Deus!), os quais interpretam um casal, onde a esposa sofre de amnésia, depois de um acidente, e não consegue lembrar de nada a partir de determinado ponto, incluindo o casamento e a vida de casada. Só que este ponto é justamente aquele em que ela deu uma guinada e se transformou, mudando todo o rumo dos acontecimentos em sua vida. Não conto o resto. Assista a zorra!!
A estória real encontra-se aqui: http://www.dailymail.co.uk/femail/article-2100527/The-Vow-Real-life-story-couple-Hollywood-movie.html.